segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Onde está o fogo que te queima?


O que te move, o que te guia? O seu combustível tem o poder de te incendiar? Ele te impulsiona à mesma proporção em que te consome por dentro? Quando surge uma faísca, uma pequena fagulha, ocorre a explosão. É um misto de amor e ódio, é o poder versus a subordinação. É essa coisa avassaladora, que te deixa embasbacado e enfurecido ou simplesmente não. É aquele combustível que te domina e te faz permanecer deitado ali, com a cara no chão ou com o olhar perdido e o coração acelerado. É simplesmente isso: uma paixão. E a sua, é aquela que te domina ou a que permanece em suas mãos?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Escuro

Busquei na ausência
A presença que não existia
E cobrei do tempo
A pressa que me adoecia
Tentando enxergar através de um vidro embaçado
Tateando no escuro em busca de um fim
Um final
Um ponto
Ou o que fosse parar aquilo
Que era dor
Que era amor
Ódio, esperança ou ilusão
Nem nomear o que eu sentia eu sabia
Como fugir do vértice do furacão?

Como dizer aquilo sem mentir?
Como me salvar sem fugir?
Qual é exatamente a definição de covardia?
Medo que acomete o sujeito?
Ausência de coragem pra tentar?

Me chame do que quiser
Mas não diga que deixei de lutar
Porque estive ali
Na chuva
De pé
No frio e ao vento
Parada
Esperando você terminar
E agora,
Estou jogada aqui no escuro
Lugar inseguro
Esperando tudo acabar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Devagar.

É no toque suave dos seus dedos
Que me faço perdida
Entre pensamentos e escolhas
Entre o certo e o duvidoso
Com o leve farfalhar das folhas
Liberto-me das amarras
E dos pesares
Vou-me livre pelo desconhecido
E aventuro-me a desbravar meu caminho
Amparada por tuas mãos
Que me socorrem quando tropeço
Mas meu cabelo se enrosca por um motivo
Que desconheço
Quando percebo
Há bolhas em sua mão
Devagar, desvio-me delas
Saltito por entre os lados
Tropeço
Mas sigo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Dois pesos e duas medidas.


Aproveitando o momento crepuscular, parou o carro, pegou a bolsa e saiu. Olhou para os lados, apressou o passo e adentrou ao condomínio de cabeça baixa. Discretamente, destrancou a porta com sua chave e entrou no recinto.

Seu coração batia rápido, sua respiração estava ofegante, mas a sua ansiedade era o que mais a incomodava. Precisava ser rápida. Não sabia o caminho, mas não deveria ser difícil encontrar o quarto principal. Sua experiência não seria esquecida, por mais que tentasse.

Pôs sua bolsa sobre a cadeira e despiu-se. Colocou os acessórios que havia escolhido com tanto cuidado. Adormeceu.

De repente, foi acordada por um barulho de chaves na porta. Rapidamente, se recompôs e se preparou. Antes do que calculara, ele adentrou ao quarto.

Qual não foi a sua surpresa ao encontrá-la daquela forma. O sorriso que se abriu refletia os longos dias nos quais a dor dilacerava o seu peito. Por mais que não se permitisse sofrer, foi inevitável.

Ela, dona de cabelos longos e sedosos, com um andar estonteante, caprichou para chamar a sua atenção. Ele caiu, claro, como um patinho.

Ele se rendeu à paixão. Ela se fez de difícil. Mas naquele momento ele acreditava que seu desejo havia se tornado realidade.

Ela o conduziu de maneira sublime, já que os hábitos antigos não conseguiu apagar. Por mais que se esforçasse, não conseguia ocultá-los completamente.

A noite foi maravilhosa. Ele se tornara um menino bobo e inocente, daqueles que nunca havia tido contato com o mundo adulto. Ao final, estava extasiado. Sentia uma coisa diferente, era uma realização que o tirara do prumo. De tão feliz, estava prestes a se declarar. Respirou fundo, sentou-se à beira da cama.

- Eu queria aproveitar...

- Aproveitar? Espero que você tenha aproveitado meu bem.

Ele ficou sem entender por um momento que não durou muito. Logo a viu levantar-se e vestir-se. Pegou a sua bolsa, jogou a cópia da chave que havia pegado em cima dele e foi saindo. Ele, mais que depressa, levantou-se ainda nú para impedir sua partida. Mas já era tarde.

Ela se permitiu um momento de loucura. Mas não mais. Ao sair do condomínio, despiu-se daquele personagem. Não podia agir daquela forma. Afinal, era uma mulher casada, mãe de família. Apesar das desconfianças das quais vinha sendo alvo, devia manter a pose e a imparcialidade.

Mais tarde, encontrou-se com uma amiga, que logo tratou de contar o babado mais quente:

- Sabe a Fernanda? Aquela que namora o Caio?

- Claro. Eles formam um casal tão lindo!

- Pois é menina, ela traiu ele com outro. Um pobre coitado que não tem onde cair morto.

- Que absurdo! Essas pessoas de hoje já não têm a decência de antigamente.

Mas ela tratou logo de mudar de assunto. Apesar de não perceber, sua batata já estava assando.