quinta-feira, 29 de julho de 2010

Você sabe o que significa amar?


Foi assim de mansinho, você chegou devagar. Sabia que tinha um espaço em meu peito. Mas sabia também que devia lutar. Eu realmente era assim, difícil, pode-se dizer. E sou até hoje, não é? Mas naquela época era tudo diferente. Não haviam preocupações maiores que as notas da escola e os motivos de raiva extrema só diziam respeito às proibições dos pais. Me sentia leve com uma pluma, em contraposição ao peso da minha conta telefônica. Todos os minutos do meu dia eram poucos para dedicar a você.

O tempo passou e a idade cresceu. Pouco importavam as notas, elas já eram consequências nesse tempo de faculdade. Dias e madrugas dedicadas a projetos e estágios, um abismo de tempo entre a gente. Novos questionamentos, novas situações. Mas o amor que batia dentro do peito persistiu. Não só isso, como também aumentou.

Novos rumos na vida, novas dificuldades. Mas ainda parece que tenho 16 anos. Quando estou entre os seus braços sinto-me protegida por uma fortaleza. Sinto ainda borboletas voando em meu estômago. Parece que o mundo é mais colorido com você.

Por mais que eu não tenha vivido uma paixão arrebatadora que me pusesse chorando madrugadas inteiras por você não olhar pra mim, sei o mal que a sua falta faz. Sei dar valor mesmo sem ter sabido como seria perdê-lo por um segundo sequer.

Hoje pensei em desistir de você. Não em tirá-lo da minha vida, mas desistir de fazer o que vinha pretendendo. Não consegui. E não o fiz porque eu percebi que o amor vai além do querer, além do buscar, além de um simples prazer e vai muito mais além do que dizer sobre amar.

É, acho que final e verdadeiramente descobri o significado do verbo “amar”. Mas não me importo se ainda não houver conseguido, porque eu quero, daqui pra a frente, me certificar ou redescobrir isso ao seu lado.


Amo você!

A natureza pede socorro.


Sinto-me livre como um rio e frágil como uma borboleta. Como se estivesse a flutuar em doces águas, salpicada de gotas macias da mistura do líquido molhado que corre com as gotas do orvalho. Estou no paraíso! Desequilibro-me, meus pés tocam o fundo coberto de areia, sinto as ondas propagarem-se por entre as minhas pernas, são os peixes a passarem por mim enquanto nadam.

Flutuo novamente! Sinto o calor dos raios do sol a aquecerem a minha pele, tão macia e e tão translúcida. Mas não me importo. Eles me fazem perceber que estou viva, eles temperam o dia. Alegram, iluminam. É bom que seja assim.

Deixo a água levar meu corpo, é um toque suave. Sinto como se mãos macias me empurrassem correnteza abaixo. É gostoso. O barulho chega aos meus ouvidos e soam como a mais perfeita das sinfonias. É mágico!

Sou acordada do meu transe, como assim?, penso eu. Algo estava preso em meu tornozelo. Fui ver o que era. Deparei-me com sacolas plásticas e seus conteúdos lastimáveis. Olhei ao redor e não reconheci o rio. O fundo não era o mesmo, a areia havia dado lugar à lama, o sol derretia a minha pele e não se podia ver quinze centímetros além da superfície. plaft. Um papel veio voando e bateu na minha testa. Era uma propaganda de uma fábrica qualquer cujo nome estava borrado. Mas o slogan não. Estava lá em perfeito estado e dizia “a solução para o seu progresso”.

Progresso. Progresso é desmatar? É poluir? É sujar? É destruir? Até onde vai a ganância? Até onde as pessoas irão com as mentes obscurecidas pelo poder? Com passos lentos, saí da água, levei o lixo para fora e percebi que aquele papel fora impedido de voar porque a minha cabeça não permitiu. Seria assim que as coisas iriam mudar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Kate (5).

Se a situação não fosse tão desesperadora, Kate teria rido da cara de susto de Adrian. Apesar de 2 anos de relacionamento, ela nunca o vira daquele jeito.
- Kate, o que você está fazendo aqui? Não disse que ia ficar em casa fazendo uma pesquisa? Isso não é hora de estar na rua, Dona Kate! E ainda por cima, sai sem a minha permissão.
- Você bebeu tanto assim Adrian? Não sabia que você tinha adquirido os meus direitos. Tipo direitos autorais, é? Ou algum de outro tipo? Sabe que eu não sabia ainda da vigência desse contrato? Ah, faz-me rir, baby. Desde quando tenho que te dar satisfações?
- Kate, não me deixe com raiva. Você é minha namorada...
- Era.
- E eu não admito isso. Como pode mulher minha...
- Ex.
- Sair por ai assim? E o que você murmurou ai?
- Ah, qual é Adrian, se liga. Eu não sou sua mulher mais nem aqui e nem na China. Até porque, para a minha sorte, não me casei com você. E mesmo se o tivesse feito, você não teria o poder de mandar em mim. Nunca.
Kate ia saindo quando virou-se para ele novamente. Ela não podia perder aquela oportunidade.
- Quer saber Adrian? Ainda bem que eu presenciei essa cena lamentável! Sabe por que? Porque eu não quero nunca mais que você chegue perto de mim. Tenho nojo de você! Tenho horror só de lembrar o quão tosco você é. Só chegava na minha casa com a intenção de me embebedar para se aproveitar de mim. Só assim para eu esboçar um sorriso, ao menos. Porque em sã consciência, você não conseguia obter um gemido de prazer sequer. E sabe o que é pior? Você se acha tão auto-suficiente, tão poderoso, que nem percebia que era fingimento.
- Kate, o que é isso? Pare de gritar, todo mundo está ouvindo.
- Dane-se todo mundo, Adrian. E dane-se você também. É melhor que todos saibam, inclusive essa ruiva aí, que você estava devorando quando eu cheguei. Aliás, como você se chama, querida?
- Ahn, Lindsey.
- Lohan também? Ha ha ha. Cuidado para não ser presa, hein? Na companhia deste aí, é perigoso ele te embebedar e quando você se der conta, vai estar na cadeia. Assim como sua xará.
- Kate, fique calma, olha só o que você está fazendo. Vamos conversar.
- Ah, qual é Adrian? Você acha que eu sou boba? Quer dizer, mais do que eu já fui por esses dois anos? Relaxa, sua imagem nem foi assim, tããão denegrida. O som está tão alto que apenas essas 20 pessoas à nossa volta escutaram o que eu disse. Por quê? Está com vergonha agora? Vá se catar!





-Senhora, chegamos! Senhora? Não vai descer? Está me ouvindo, está passando mal? Senhora!
Envolta em seus pensamentos, Kate não percebera que o táxi havia chegado ao destino. Observava as pessoas que andavam calmamente pela calçadas. Elas não deviam ter problemas. Como podiam passear daquele jeito? Kate pagou pela corrida, ajeitou os óculos escuros e saiu apressada em direção ao prédio. Se dependesse dela não seria educada, nem gentil e nem o escambau. E se alguém a desejasse bom dia, ela iria realmente perguntar o que tinha de bom. Mas não, não podia se comportar como uma menininha. Tinha que manter a compostura. O que não significava que deveria ser extremamente amável. Iria se restringir ao simples cumprimento. Pronto, era isso que faria.
- Bom dia Smith.
- Bom dia – ele fez uma pausa – Sra. Kate.
Ela sabia que quando Smith respirava fundo antes de prosseguir, era que alguma coisa ainda estava por vir. Ela, porém, não queria se dar ao trabalho de perguntar e já ia em direção ao elevador quando ouviu ele completar a frase.
- Sinto muito pelo o que aconteceu.
Ai não – pensou ela – será que todos os funcionários da agência sabiam da traição?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Medo da noite.


Tenho medo da noite!
Do escuro do céu
E da sombra da lua
Onde tudo escurece
Onde a lua fulgura
Quando o sol se esconde
A luz escurece
A sombra aparece
E então tudo some!

Tenho medo da noite!
Onde ouço barulhos
De um simples sussurro
A um grito lascivo
Desde uma folha caindo
Até o tritilar dos grilos

Tenho medo da noite!
E enquanto os gatunos estão à solta
Os gatos andam nos muros
Causando sempre infortúnios
Sem ao menos esperar

Tenho medo da noite!
Ouço gritos, vozes
Passos, pegadas
É muito obscuro
É muito sem graça
O tempo não passa
E eu fico aqui
Olhando o relógio
Contando os segundos
À espera da noite
Que não tem um fim

Desisto e me esqueço
Com a sombra, adormeço
Me viro e me aqueço
Nessa noite ruim

Acordo assustada
Fico atordoada
Mas quando olho a janela
Da noite escura
Fiquei livre, enfim

Não tem mais fantasmas
Nem gatos na escada
Nem gatunos terríveis
Ou coisas ruins

O dia está claro
O sol escaldante
E num rompante
Percebo por fim
Que gosto do dia
Com ar de alegria
Admiro a beleza do sol
E da natureza
Sinto o ar
Vejo com clareza
E espero que o dia
Não termine
Assim
Como quem tem pressa
Como quem tem fome
Quero que o dia perdure
Ou que não tenha fim

Porque a noite é longa
O frio é duro
O pior é o escuro
É sempre ruim!
Tenho medo da noite!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Kate (4).

Dentro do táxi, à caminho do trabalho, Kate teve um vislumbre da noite anterior.


***

Eram quase dez da noite e ela ainda não estava pronta. O seu guarda-roupas já estava inteiro no chão. Não tinha uma peça que a fizesse se sentir satisfeita. A indecisão feminina, como sempre. Exausta, escolheu aquele vestido preto, sabe? Aquele que toda mulher tem um? Que não tem aquele mega decote e nem é tão curto para mostrar as belas pernas torneadas, mas aquele que se pode vestir, colocar uns acessórios e se sentir à salvo do olhar feroz das outras mulheres. Ela havia ligado quinze vezes para Adrian, seu namorado. Já repetia mentalmente a tão querida frase na voz sexy da gravação: “Este celular encontra-se desligado ou fora da área de cobertura.” De certo, Adrian devia estar terminando um projeto do trabalho, ele havia dito isso a ela dias atrás. Mas Kate queria comunicar-lhe que estava saindo com Helen. Impossibilitada, desistiu. Ele que ligasse pra ela quando tivesse um tempinho.

Quinta-feira era o dia vip da Pluss, a boate mais famosa da cidade. Sempre com cantores, modelos e artistas de Hollywood. Kate nunca ia quinta, era o melhor dia porém, o mais caro. Ela não se dava a esse luxo sempre, mas aquela era uma ocasião especial. Helen ia apresentar seu novo namorado à Kate. Ele era um advogado bem sucedido e vivia rodeado por menininhas babando por ele. Mas, para a tristeza delas, ele escolhera Helen para namorar. Talvez tenha sido por isso que Kate e Helen recebiam olhares furtivos de várias garotas e não entendiam nada. Até ouvirem uma conversa no banheiro...

A música eletrônica rolava solta e Kate estava admirada de quão sofisticada estava a festa. Quantos homens lindo à sua volta. Ela olhava atentamente cada um deles e, na falta de uma coisa melhor pra fazer, classificava-os de acordo com seu gosto e suas características. Até aquele momento, os morenos de olhos verdes estavam ganhando. Era uma delícia se divertir observando os outros até quando seus olhos pairaram sobre um casal. Ele usava uma blusa de listras azuis igual aquela que ela dera à Adrian no dia do seu aniversário, além de ter um jeito bem familiar. O clima tava tão quente que Kate se enxergou no lugar daquela mulher. Ela apertava os olhos acreditando que assim eles adquirissem a capacidade de aproximar aquela cena numa espécie de binóculos. Como não conseguiu, foi andando devagar, se aproximando lentamente e, de repente, estava tão perto que conseguiu sentir aquele perfume que ela conhecia tão bem. Olhou para os dois, que haviam se desligado do mundo naquele amasso tão intenso, contou até 10 e sua vontade era de pular no pescoço de Adrian. Resistiu. Num impulso, tocou o ombro dele, que se desvencilhou devagar sem nem se dar conta do que havia feito. Ela o fez novamente, porém mais forte. Ele apenas deu um passo para frente. Kate, porém não se conteve.

- Curtindo a festa, Adrian?

Realidade.


Ele estava sentindo o gosto do sangue em sua boca. E tinha a sensação que chão havia sido sugado de debaixo dos seus pés. Pela primeira vez se sentira desamparado mesmo tendo passado 30 difíceis anos de vida.



Saía de casa para se exercitar. Surpresa. Antes que pudesse fechar o portão, sentiu algo frio em uma de suas têmporas. Imóvel, não conseguiu reagir. Ouviu logo que deveria obedecer, tirar tudo dos bolsos se não quisesse tomar tiro. Assim o fez. À essa altura, o suor brotava por todo o seu corpo e permitia que o revólver deslizasse livremente sobre a sua pele. Devagar, foi tirando o que podia, celular, óculos, carteira, aliança. O bandido proferiu-lhe um soco na boca, o empurrou para dentro e fechou o portão. Ele não resistiu à força imposta e caiu.



Aquilo era o preço que pagava por ser um cidadão correto, que pagava os seus impostos. Ah, mas claro, faltava o prêmio por ser assim tão exemplar. Tinham outros que não o eram. E era isso que ganhava, a impunidade, a beleza de perder, dentro da sua própria casa, o que havia conquistado com o próprio suor.

No ritmo do descompasso da dança da vida!

Cai a cortina
Cai a máscara
Os fatos são despidos
E tudo que estava escondido
De repente aparece
Ele não era o que mostrava
Ela não era o que aparentava
E tudo parece ter sido em vão
Quantos choros e risos
Quantas palavras e gritos
Tudo pra dizer que não era o que parecia ser
Cai a cortina
Cai a máscara
Aparece a verdade
Some a ilusão e a mentira
Acabou a escuridão

         * * *

A mentira que impera
Se acaba no portão
Ouço em noites de primavera
Que luar mais bonito é no sertão
Vejo em gota de orvalho
O reflexo do peão
E ouço em som de cachoeira
Que o mar não tem sal não
A saudade que domina,
Bate forte e devagar
Mas escuto cada rima
Sempre forte a soar
Me lembrei da bailarina
Sempre gosta de rodar
Mas também tem a menina
Que não pára de brincar
E assim vou seguindo
Meu caminho devagar
A espera do destino
À espreita a me atacar
Mas eu sou como um menino
Sempre livre a sonhar
Por isso eu vou seguindo
E já não penso em parar.

domingo, 18 de julho de 2010

Invisível.


Ela veio andando, observando os arranha-céus. Tudo tão bonito, tudo tão perfeito. Num dos pontos mais nobres da cidade a sua presença era quase imperceptível. Tão nova e tão adulta. Sabia o quanto custava cada lixeira daquele lugar. Viu uma vitrine que reluzia, enfeites glamourosos e chamativos. Foi até ela, parou e começou a olhar. Sentiu o olhar penetrante das madames que estavam lá. Não se intimidou, só conseguia pensar em quantos animais haviam sido mortos para constituir cada casaco daquele. O preço de cada um? Ah, era um valor com o qual não acreditava obter nem trabalhando a vida inteira. Não era esse o seu destino, emprega doméstica? Era isso que todas as meninas do morro esperavam, não tinham outra opção. Absorta em seus pensamentos, esqueceu-se de ouvir o mundo lá fora. Percebeu um assobio, algo que não sabia discernir do que era. Olhou para o lado e conseguiu perceber que a vendedora a expulsava de lá, com toda a sua impáfia, arrogância e prepotência. Sentiu o amargo da humilhação em sua boca. Sentiu no ar o cheiro do desprezo com o qual era tratada. Mas ela sabia, ah como sabia...Que o valor que se tem não está no que se veste e sim no que se é. Com os olhos marejados, lutava para não chorar. Dignidade não se compra e pela dela ninguém ia pagar. Caminhava pela calçada com os olhos baixos, rumo ao chão, e percebia refletido naquele cimento limpo uma realidade fria, distante e cruel.

sábado, 17 de julho de 2010

Fantasia, onde estás?

Em que ponto da vida algo se perdeu? Onde estão os príncipes? Onde estão os reis? Na minha doce infância eu sabia! Sabia que seria resgatada do alto da torre por um belo príncipe em seu cavalo branco. Os anos se passaram e estou aqui. Onde foram parar os princípes? Onde está a fantasia? Meu mundo imaginário era povoado por fadas, duendes, bruxas e dragões. E eu vivia à espera do meu final feliz. Mas quando olho pro lado, o que vejo?! Nem resquícios do que acreditei um dia. Não há príncipes, nem dragões, nem fadas-madrinhas. Fui enganada. Do doce encanto à amarga ilusão. Onde foram parar as coisas em que eu acreditava? Dizem que elas existiam apenas em meu coração. Mas por que? Agora?!, o mundo acabou, a guerra explodiu, o mal imperou e ninguém resistiu. Não há uma viva alma que diga que o mundo é feliz. Ei palhaço, cadê seu nariz?? Não há, não tem, e acho que nunca existiu.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Kate (3).


Kate saiu do ar por um breve momento, seu olhar se tornou vago. Ela tentava se lembrar do que realmente havia acontecido, mas estava exaurida, suas forças haviam se esvaído. Cansada de tentar, desistiu.
- Não precisa ficar envergonhada. Meu nome é Jake e eu te trouxe pra casa porque não sabia seu endereço para levá-la de volta. Quando entramos no táxi você apagou, não me deu um segundo nem para perguntar onde morava. Sem opções, te trouxe para cá. Não tem nenhum problema, tem?
- Oh Jake, me desculpe. Eu não queria ter dado esse trabalho todo. O pior é que eu não me lembro de nada. Só alguns flashes surgem na minha cabeça de tempos em tempos.
- Eu entendo.
- Mas você não é nenhum bandido, é?
- Não Kate.
- Assassino de aluguel?
- Não.
- Gente da máfia?
- Não Kate.
- Tráfico de órgãos?
- Não, nada disso.
- Então...
Ele riu e deixou que uma mecha do seu cabelo lhe caísse sobre a testa. Com um simples movimento a jogou para trás. O que deixou Kate fascinada.
- Eu sei que você não se lembra, mas te disse isso ontem. De qualquer forma, não custa nada repetir, não é?
Kate riu envergonhada.
- Eu sou presidente de uma indústria automobilística. Meu pai fundou a empresa e, como eu sempre gostei de carros, entendia de tudo com facilidade. Com o passar do tempo, meu pai percebeu que eu tinha aptidão pra coisa. Me formei em administração e em engenharia e fui assumir os negócios da família.
- Nossa, você assim, tão novo, nem parece...
Dessa vez, foi Jake quem riu. Kate tinha uma maneira sutil e eficaz de arrancar-lhe sorrisos. Ele estava encantado.
- É, novo nem tanto. Mas meus 33 anos foram bem vividos.
Ela ficou surpresa, eram muitas informações para serem absorvidas em um espaço de tempo tão curto.
- Bom Jake, a conversa tá ótima e apesar da ressaca, estou bem. Já são quase oito horas e eu preciso trabalhar, mas você se importa de me dizer o que aconteceu?
Jake parou por um momento e pela primeira vez não sabia o que fazer. Deveria realmente contar o que havia ocorrido?
- Kate, me desculpe, você pode não gostar muito do que eu vou dizer, mas...
- Fala logo, assim eu fico mais preocupada. Eu fiz algo grave assim?
- Não, na verdade você se esbarrou em mim sem querer, tropeçou no meu sapato e ia caindo quando eu te segurei.
Com um deus grego daquele – pensou Kate – era bem capaz dela ter feito de propósito.
- Eu vi que você estava um pouco transtornada – continuou ele – e a levei pra sentar.
- Ahn, muito obrigada. Eu devia estar ruim mesmo, nem me lembro da última vez em que bebi tanto. De repente Kate ficou paralisada – Mas se ontem não era dia de nenhuma comemoração especial, porque eu só bebo em datas assim, porque então eu bebi tanto que não me lembro de nada? Alguma coisa aconteceu ou...
- É, você viu se namorado beijando uma outra mulher.
Kate havia esquecido completamente.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Kate (2).

Kate ficou atônita, não sabia o que fazer. O homem que estava à sua frente era de uma beleza inimaginável. Sua pele clara contrastava com o castanho de seus cabelos. Tinha sobrancelhas espessas que contornavam aquele belo par de olhos azuis e emolduravam o seu rosto. Sua boca tinha um contorno forte e definido, além de uma cor rosa avermelhada que lhe garantia um ar saudável. Era uma imagem perfeita.
- Kate? Bom dia, trouxe o seu café. Não sabia sobre o seu gosto mas lembro de ouvir você dizer que gosta de tomar suco de morango ao acordar. Trouxe o suco com alguns biscoitos.
Kate permanecia perplexa, aquele lindo estranho sabia até do que gostava no café. Isso não era um bom sinal.
- Err...Desculpe-me, errr....É que eu, meio, assim...
- Não há porque se preocupar, tome o seu café ou vai se atrasar para o trabalho! Kate estava estarrecida, esquecera completamente que aquela era uma manhã de sexta-feira.


Kate teve uma infância feliz e tranquila no interior da Itália. A cidade de Florença era bem frequentada e recebia turistas durante todo o ano. Mulheres elegantes, que vinham de Milão, passeavam pela cidade e a inspiravam. Eram modelos e atrizes famosas, mulheres ricas e bem vestidas que serviam de exemplo. Ela, menina estudiosa e dedicada, sonhava em ser como elas – uma mulher de sucesso. Decidiu então ser modelo, tirava boas notas na escola, via filmes, lia revistas, tudo para mostrar aos pais que era capaz de seguir sozinha no mundo fashion. Mas seu pai, Steven, não permitia que uma integrante da família Spencer se tornasse uma ovelha desgarrada. Pelo menos era isso o que ele pensava.
- Chega Kate, não quero uma filha minha drogada!
- Mas pai, não tem nada a ver. Pra ser modelo não precisa usar droga.
- Ah ha ha ha. Pensa que eu não sei?! Eu vejo aquela Kate Moss cheirando cocaína até em capa de revista.
Escondido das filhas, Steven adorava ler revistas do universo feminino. Sabia todas as fofocas das celebridades, cada casamento, cada separação e além, claro, de todos os capítulos das novelas. Mas isso era uma coisa que não devia ser dita, o que sua mulher iria pensar?
- Mas não são todas, você não pode generalizar.
- Tá bom!
- Sério pai, você vai deixar?
- Deixar o quê? Pensa que só porque eu concordei com o que você disse significa que permitirei esse absurdo?? Claro que não! Pode até não ter isso de droga, mas toda modelo é anorexa.
- Anoréxica, pai!
- Aí, não disse?!
- Não pai, só estava te corrigindo. Nem toda modelo é anoréxica.
Essas conversas se repetiam de tempos em tempos, Kate tentava convencê-lo, mas era em vão. O tempo se passou e Kate parou de crescer, seus 167 centímetros não permitiram-na ser uma modelo famosa. Se tivesse ao menos uns 8 centímetros a mais...
Kate desistiu da vida de modelo mas não abandonou essa carreira por completo, estudou moda, queria ser estilista. Mas uma estilista dessas famosas, de renome internacional. Queria ser uma Coco Chanel, mas não tinha fama nem dinheiro para investir.
Um dia, enquanto fazia um trabalho da faculdade, viu que uma empresa americana estava contratando estilistas e resolveu se inscrever. Não seria chamada mesmo – pensava ela – e preencheu o formulário enquanto escutava música e jogava umas partidas de paciência. Semanas depois recebeu a confirmação do emprego e, apesar de surpresa, lá foi ela rumo à cidade que a fascinava.



- Desculpa mas, eu...eu esqueci seu nome!
- Tudo bem Kate, não esperava que você se lembrasse mesmo. Ainda mais depois do que aconteceu!
Ai meu deus – pensou ela – o que havia acontecido?

Como uma teia!


Estou presa numa teia que eu mesma criei. Os erros do passado repercutem no agora. Por que há tanta resistência diante do novo? E a liberdade, por onde anda?
Quando quis ser de um jeito, fui. Fui tanto que moldei as pessoas ao meu redor. Agora já não quero ser assim. Foi um erro? Que tenha sido ou que não. Foi uma etapa que me permitiu ser quem sou hoje. As respostas são escassas mas as tentativas não são em vão. Que tudo se resolva e que acabe bem. Não quero que o que eu mais prezo se distancie e se vá. Porque por esse motivo meu coração ontem bateu forte, mas quero que amanhã bata também.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Kate (1).


Ela acordou em um sobressalto, o coração disparado. Há quanto tempo não acordava assim? Tentou enxergar mas a penumbra não permitia. Sua visão estava embaçada, deveria ter tirado as lentes antes de se deitar. Deitar, dormir? De repente, ela percebeu que aquela não era a sua cama. O lençol era macio, mas nada que se comparasse aos seus jogos de lençóis de algodão egípcio, de 600 fios. Não era todo mundo que tinha o seu bom gosto. Virou-se de um lado para o outro e tentou se aproveitar da fresta de luz que entrava pelo canto da porta. Foi em vão. Apurou os ouvidos, percebeu uma música ao fundo e barulhos de utensílios de metal. Onde estava, afinal?
Percebeu que seu casaco estava sobre a poltrona e, para seu alívio, permanecia com a roupa que usara no dia anterior.
- Pelo menos isso! – pensou ela. Olhou para o chão e viu suas botas. Como não havia ninguém no quarto, resolveu levantar-se para terminar de se vestir. Ao levantar da cama viu o seu mundo girar. Há quanto tempo não ficava de ressaca? Desde os seus 18 anos.



Era a festa de aniversário da sua melhor amiga. Kate resolveu então, preparar-lhe uma festa surpresa. Não era todo dia que se fazia 18 anos. Kate então, pediu à sua mãe que a deixasse comemorar o aniversário de Jéssica em sua casa. A mãe, Natalie, não se opôs, as duas eram tão próximas quanto duas irmãs seriam.
A decoração incluía flores, velas, balões, neons, uma verdadeira mistura de cores e estilos. Kate, aproveitou-se da oportunidade e chamou alguns modelos, que se fantasiaram, ou melhor, se despiram e ficavam desfilando de sunga por todos os lados. Jéssica chegou acreditando que aquela era a festa de despedida de solteira da irmã de Kate, Hanna. Quando percebeu do que se tratava, abriu um sorriso do tamanho do mundo e não cabia em si de tanta felicidade. Afinal, sua mãe dissera que aquele ano estava difícil, que até o seu presente seria simples e festa era algo com a qual nem deveria pensar. Foi o melhor aniversário de todos!
Ela e Kate aproveitaram até o último segundo, ou melhor, até a última garrafa de vodka. Quando Kate deu por si, já estava dançando em cima do balcão com um dos modelos. Jéssica resolveu acompanhá-la e se juntou à dupla na companhia de outro modelo. Elas nunca se divertiram tanto!
No outro dia, quando acordaram, parecia que tudo estava solto dentro da cabeça delas, até o barulho da chaleira no fogão incomodava. De uma coisa Kate estava certa, beber daquele jeito, nunca mais! Mas que tinha sido divertido, isso tinha!




Kate andou devagar até a poltrona e vestiu o casaco para se proteger do frio, já que estava em pleno inverno nova-iorquino. Sentou-se novamente para calçar suas botas e, quando terminava de subir o último zíper ouviu a porta se abrir.
- Bom dia Kate, trouxe o seu café!
Kate sentiu um arrepio frio correr dos seus pés até a ponta de seus longos e louros fios de cabelo. Quem era aquele estranho que a chamara pelo nome?

domingo, 11 de julho de 2010

Quero...

Corra, venha comigo
Andar sem destino e sem direção
O caminho é longo
A vida é curta
Esperar por abrigo é ilusão
Quero correr, tomar banho de chuva
Deitar sob a lua
Rolar no chão
Quero ver o mar
Quero ver o sol se por
Quero ser parte da natureza
Quero ter asas de borboleta
E voar como beija-flor
Quero o olhar da águia
E a destreza do gato
Quero ser como uma leoa que corre
Que sente o vento batendo e tirando cada pelo do lugar
Quero ser doce como um golfinho
E feroz como um tubarão
Quero viver, quero correr
Só não quero que digam que eu não soube viver
Sou intensa, sou forte
Também sou fugaz
Apareço e me escondo quantas vezes quiser
Sou fraca, sou forte
Sou menina, sou mulher
De sorriso fácil e olhar cativante
Levo quem amo comigo
Sempre no abrigo do meu coração
Mas peço por favor
Me deixem viver
Quero crescer
Quero voar
Quero ser feliz
Quero viajar
Vamos, querem vir comigo?
Estão convidados
Mas andem rápido, não quero parar
Quero seguir adiante
Aqui, ali e em outro lugar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O que você tem feito?

Afinal, o que você tem feito?

De uma simples pergunta para uma intrigante questão. O que você tem feito? Ou melhor, de que tem reclamado? Porque basta partir do pressuposto que para se fazer algo deve haver um impulso. E então, como está a sua vida, como está o seu mundo? O Brasil perdeu a copa, o Bruno matou a Eliza, a corrupção só aumenta e a violência também. A saúde é uma merda, o ensino uma decepção. Estamos em época de queimada, de preconceito e de ilusão. E, afinal, o que você tem feito? O petróleo está vazando mais, os animais estão em extinção, os pobres estão ficando sem casa e sem alimentação. E ai?

Vejo cada um dizer sobre algo, absurdos e mais absurdos ou não, às vezes é uma simples questão de opinião, de comportamento. Mas, independente do que seja, se é uma briga de família ou a destruição do mundo, qual a sua posição à respeito? A água está diminuindo, mas você a economiza? As companhias energéticas não dão conta de abastecer os lares, mas você desliga a lâmpada quando sai do quarto, você desliga a televisão quando sai da sala? Ou você é do tipo que abre a geladeira pra pensar, de repente, analisar o conteúdo, e resolver pedir um fast-food? A violência aumenta? Sim! Mas você liga pra polícia quando vê algo de errado? Os animais estão morrendo? Sim! Mas você continua jogando lixo nas praias? E então, o que tem feito?

Afinal, qual é a sua opinião??

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Paixão!


Querida Paixão,

Tentei um contato para marcarmos um encontro. Mas, a sua secretária me disse que você não estaria disponível. Assim, permita-me apresentar o meu ponto de vista:

Compreendo a sua função no mundo, pois permite que as pessoas estejam mais abertas ao amor. Sei também das suas outras características, sei que é responsável por palpitações, pela frequência de pensamentos fixos, suores, arrepios, mãos geladas e trêmulas e desconcentração. Sei que dura de alguns meses até dois anos e que é responsável por atitudes extremas, demonstrações de coragem, olhar perdido e notas baixas. Tem caráter rápido e efervescente, curto e intenso.

Qual o motivo de você ser assim? Você é causadora de guerras, desentendimentos e fracassos. Mas também acaba em explosões de sentimentos bons, ocasiona faíscas mais quentes que um vulcão. É, você faz parte da vida da maioria das pessoas, mas para mim você tem um defeito: nem sempre se transforma em amor.

Assim, se transforma em atrito, conflito e ódio. E prevalece a desgraça. É uma confusão sem fim. Por isso, faço um pedido, habite o coração de todos, promova a paz e o bem-estar. Seja amiga e não propague a confusão. Continue efusiva, mas tenha moderação. Cresça no coração de quem a deseja e alcance proporções que a pessoa precisar. Mas, por favor, transforme-se em amor quando acabar. Não aguento mais ver lares desfeitos, corações partidos, vidas acabadas e desilusão total.

Por favor, penetre na vida e no coração de cada um. Permita que haja paixão pela vida, pelo trabalho, pela família, pelos amigos, pelos colegas, pelo marido, namorado ou coisa assim. Só não permita que tudo acabe em guerra, que tudo acabe em morte e que cheguemos ao fim. Paixão, paixão, há tanto tempo guia nossos caminhos, interfere em nossas escolhas...

Então, que seja assim. Mas que promova o bem, que propague a paz e se transforme em amor. Amor sereno, amor intenso, amor eterno.

Assim, espero que estejamos conversadas e que não haja necessidade de eu ter de me posicionar novamente. De qualquer forma, arranje um horário, marquemos um dia para tomar um café e falarmos da vida.

Atenciosamente,

Sílvia.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Solidão!


Ouço gritos, ouço vozes. Sinto-me presa a um lugar que não pertenço. Faço coisas que não compreendo. Não sei porque ajo assim. Seria tão diferente se tudo fosse independente de mim. Tenho que sorrir quando quero chorar, quero ser fraca quando tenho que lutar. Sinto que não tem lugar pra mim. Eu olho pros outros, estão sempre sorrindo, será se são felizes assim? Como posso eu, ter forças pra sorrir, quando olho pro lado e vejo mentiras que enganam, que iludem e que machucam? Não quero pertencer a esse mundo de descrença, desavença, de sofrimento e de tristeza sem fim. Mas para onde vou? Afinal, quem sou? Não tenho respostas, só trago questões. Não tenho alegria, não tenho fantasia e viver pra mim é apenas um existir. É perambular num espaço vazio, sozinha numa noite de frio, onde nenhum agasalho aplaca meu frio. Ele se transforma em dor. E dói. Dói o peito, dói a alma e eu já nem sei o que fazer. Onde estão aqueles que se diziam amigos, aqueles que trariam ao menos uma coberta para me aquecer? Ó, quanto egoísmo, quanta ilusão. Chamei de amigos, um dia, aqueles com quem eu aceitaria dividir a minha migalha de pão. Estava enganada. Eles se foram e me deixaram aqui.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Call me freedom!

amado, não busque em mim o que não sou. pois sou como uma pássaro, sou livre. voo por paisagens extensas, tenho passagens intensas, mas não me prendo a ninguém. não queira que eu tenha o sorriso que você não possui, que não consegue esboçar. sou diferente. me atenho aos detalhes, mas desapego-me do todo. gosto de ser assim. não sou marionete, não hajo conforme queres. danço conforme a música e isso me faz bem. um bem inesgotável e sem fim. não és feliz sozinho? que pena! eu sou feliz assim. desata-me de teus nós, pois quero voar. seja na imensidão do infinito ou apenas no sistema solar. mas não importa, não quero traçar planos. vou aonde a brisa soprar. que ela me leve onde ainda não fui, mas sei que lá quero chegar. e que seja assim. sem planos, sem rumos, sem direção. sou filha do vento, que passeia, que trás e que leva. mas também sou filha do amor, que conquista, cativa e me cerca. faz-me cercada de tudo, tudo que preciso. mas com você, cerco-me em abismos, e fico perto do fim. mas isso eu não quero. e se me queres contigo, sejais meu amigo, pois do contrário, não há solução. e que assim seja, meu infiel amigo, desisiste da vida, desististe de mim. agora, me deixe pois quero voar. sem rumo e sem direção, mas com uma certeza a levar: seu eu perder esse voo, o universo não vai me esperar.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ao som da dança!


Carolina bailarina
Tão suave dançarina
De gestos majestosos
E olhar complacente
Nem parece o que apresenta
Mas finge, representa
É reflexo dos outros
E destes é refém
Se mostra como forte, bela e esguia
Mas se cansa de viver rodando
Como disco velho em barbearia
E ela roda, e roda, e roda
Mas ela tem classe, não roda
Circula
Faz círculos, de amigos, de famílias e companhias
Mas na verdade ela roda, ela poda
Sem graça
E sem alegria
Seus círculos são soltos
Desfazem-se os vínculos
E ela roda, e cai
Sozinha, busca uma casa
Uma lar, um abrigo
Ganha os palcos aos poucos
Mas é um amigo infiel
Ele cobra
Ela se desdobra
E no final
não vence ninguém
ela se vai, se esvai
perde a força, o viço,
o amor, o capricho
ela se perde de si.
E se torna uma estranha
Num lugar obscuro
Num escuro sem fim
A plateia sai porta afora
As luzes se apagam
O palco se esvazia
E por fim ela se vê
Não se reconhece
Não há encaixe
Uma alma pequena num corpo de imensidão
Não há.
Não há.
Não há.
Não há nada que a preencha
Que a complete
Que a entenda
E na imensidão do espaço
Solta no vazio
Sente na pele a brisa fria que sopra
No peito, um vazio oco
Que falta...
Falta alguém
Falta amor
Falta alguma coisa
Que seja!
Não há mais tempo a perder.
Embora nunca tenha tido.
Sozinha, sentada num canto
Ela pensa, ela sente
Ela luta
Mas
De repente
Cai uma lágrima.

O canto do chicote!


E eis que ele brilha, reflete
Nas mãos poderosas que finda vidas e decide destinos
É como cobra que contorce, retorce
Não tem dentes, não tem garras
Mas (per)fura, (re)corta, desforma
E se agarra, se amarra
Destrói o que existe
Constrói marcas
Não se intimida, que sejam reis ou rainhas
Cidadãos de bem ou não
Eles se igualam diante daquele
Que não mede forças, pois é a presentificação da mesma
É ele que todos temem
Que morrem por (causa) (d)ele
Tão pequeno e tão poderoso
Tão ínfimo e tão cruel
É ele que se põe, se dispõe
Se apresenta e arrebenta
Corações, sensações
Sentimentos e ações
É ele que faz brotar pequenas e grandes gotas
De suor de uma tez que trabalha
Que se sacrifica, que se humilha
E é humilhada
É ele que promove grande parte da desgraça escrava.

sábado, 3 de julho de 2010

Coragem

Dispa-se da couraça
Liberte-se
Entenda o todo
Aceite o jogo
Isso é viver
É melhor do que ficar parado
Do que esperar um namorado
Do que tentar fazer o amor florescer.
Se entregue por inteira
Não fique de bobeira
Esperar não é saber
Jogue o salto de lado,
Tire do armário o sapato furado
E embrenhe-se na vontade de aprender.
O mundo, ó cruel contradição, promove o novo mas força o antigo
Não quer ser abrigo, não quer ser irmão
Ele te encara te frente, espera que você tente
Sair do lugar e tentar se entender
Mas a vida é brincadeira, é festa, é besteira.
E aquietar-se não é bom não.
É mais interessante sair pra vida, correr pro abraço
Que seja de inimigo ou não.
Mas é bom estar perto, no aconchego
No beijo, no colo
No desejo
É bom ter a vontade de viver.