Num momento de cultura inútil, lí uma entrevista do Alexandre Frota à Globo.com. O conteúdo não importa, apenas uma frase me chamou à atenção. Segundo ele, o mundo está "viadinho demais".
As pessoas agora se cercam de todo e qualquer cuidado a fim de evitarem sofrimentos a qualquer custo. Remédios específicos à portadores de transtornos e síndromes, se transformam em moeda de troca de baixo valor. Rivotril é o novo Dramin. Quer dormir durante uma viagem? Com toda certeza, há alguém que vai oferecê-lo a você.
Não se pode sofrer, não se pode chorar. Tem alguma dor? Um vazio no peito? Uma crise existencial? A farmácia é a solução.
Em contrapartida, enquanto uns querem minimizar a dor, outros querem se livrar dela mesmo antes que apareça. Só vêem o que querem enxergar, só fazem quando têm algo a ganhar.
E assim, o mundo vai nessa mudança incessante, nessa vontade louca de adquirir, que seja poder, status, segurança e visibilidade.
Não se pode dizer que a roupa da fulana é feia que você corre riscos de responder a um processo por calúnia e difamação. E dessa forma, as pessoas vão se escondendo e se livrando. Livrando-se de quê exatamente?, eu me pergunto. Mas, de imediato, obtenho a resposta: livrando-se da dor, do medo, da angústia e do sofrimento.
E assim, vão-se as pessoas, se livrando, se esquivando e exigindo uma distância mínima, querendo um lugar de conforto que não as pressione, não as faça pensar nem agir.
O mundo então segue seu curso cheio de individualistas e repletos de covardes insensíveis. Afinal, há ONG's e organizações pra todo tipo de coisa. Será se não existe uma do tipo: "Associação das pobres mulheres com cabelo indisciplinado"? ou uma "Organização não governamental para mulheres que sofrem por terem olhos azuis mas que queriam olhos verdes"?
É Frota, nessa questão até concordo com você - mas juro que é somente nesta - o mundo está viadinho demais.