quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Férias!


Nessas férias só quero livros e bons ventos
Bombons sortidos
Sem contratempos
Pra que eu não desvie do meu caminho
Para que não me perca em pensamentos
Os meus problemas são os meus problemas
E os seus problemas são seus e só
Porque eu vivo do céu e da lua
Eu vivo do brilho do sol
Eu tenho o tempo
Eu tenho o mundo
E todo o resto
Se torna pó
E é só
E é isso
Então tá
Fica assim
Você vive pra você
E eu vivo por mim
E é só paz, luz
Sombra e água fresca
Sombra e águas claras
Reluzentes de amor
Amor que vem
Que vai
Que fica e não sai
Mas que bate e pulsa
Ou apenas se aquieta
Mas nesse tempo que me resta
Eu quero paz
O frio
O calor
Mas preocupação não mais.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Estilhaços.


O silêncio que habita minha alma faz um barulho ensurdecedor, estridente e penetrante. Ele percorre os cantos do meu quarto em busca de um lugar pra sair, em vão. Cubro meus ouvidos com as minhas mãos, que já estão sujas do sangue que brotam dos meus pulsos. Tenho um vislumbre, uma rara lembrança dessa minha tentativa de livrar-se desse tormento. Apenas um flash, que se apaga, some. Sinto o ar pesado, pegajoso. Parece que ele se voltou contra mim, não quer levar o que eu quero expulsar. Sinto-me esvaída, cansada por tentar extirpar aquilo que me infecta e não quer sair. São lâminas vitrificadas, entranhadas em minha carne e, quanto mais eu tento, mais se aprofundam.

domingo, 14 de novembro de 2010

É orgulho, é Paixão, é Cruzeiro!!!!


Naquele momento em que vi aquele garotinho, de olhinhos puxados e com sorriso largo, percebi que ele não tinha culpa. Aliás, quem estava ali, torcendo, talvez não tivesse culpa. Mas isso não isenta ninguém de todas as barbaridades vistas.
Me peguei pensando em como uma pessoa pode ser tão baixa e tão inescrupulosa a ponto de se mostrar, assim tão nitidamente, a sua total parcialidade.
Mas é sempre assim, sempre.
Os times fora do eixo rio-são paulo sempre têm que se dar bem sobre os outros todos de estados diferentes. E nesse jogo não foi diferente.
O corinthians não ameaçou o gol da Muralha Fábio. Ronaldo, com toda a sua fOrma física, apostava corrida com a bola e sempre perdia. Ele a via correr à sua frente, ela deslanchava e ele ficava, apenas observando.
Eis que ocorre o primeiro "erro" do juiz, que logo comete o segundo, o terceiro e assim, os "erros" se vão, acontecendo mais e mais.
São várias tentativas claras, sempre com o mesmo obejtivo: prejudicar o Cruzeiro e favorecer o outro time.
Sempre.
São faltas que não são marcadas, impedimentos errôneos e tal.
Até que, numa jogada, onde o pobre e obeso ronaldo desaba com toda a sua leveza, sai um pênalti, uma expulsão no jogo e uma 'após', cartões amarelos e a revolta de toda a nação azul, que se vê de mãos atadas quando, nem quem deveria ser imparcial e justo, o é.
Então, aquele garotinho inocente, feliz com o resultado do seu time, me vem à cabeça. Pode ser que ele não tenha discernimento, mas qual a graça de torcer para um time que joga sujo? Que vai contra aos princípios do esporte? Que compra o juiz para vencer uma partida e levar um campeonato?
É muita sujeira!
Como um preseidente de time se envolve assim, tão diretamente, com a CBF? Não deveria haver uma separação de uma coisa e outra? É óbvio que coisas a mais acontecem por ali.
Coisas estas, como a mudança, repentina, do regulamento da série B para, e somente para, beneficiar esse tive alvinegro. O time saiu da segundona? Voltemos ao regulamento anterior. O time está comemorando 100 anos? Acabem com os outros pois ele precisa vencer.
Toda a roubalheira vista na política e nas outras instituições brasileiras, chegam ao futebol.
É muita vergonha.
Aqui, deixo a minha completa admiração ao Fabrício que, além de grande jogador, é um grande homem. Ao se deparar com tamanha deslealdade, aplaudiu o pobre e indefeso árbitro e deixou o campo, mostrando o seu caráter, a sua dignidade. Raro isso hoje em dia, não?
Assim, o juiz precisou de escolta policial para se retirar do campo. Bem típica essa atitude covarde.
E foi assim, que mais uma vez, um time fora do eixo rio-são paulo foi nitidamente prejudicado.
Ao Cuca, a minha concordância, fatos assim realmente denigrem o futebol.
Imagina aquela pessoa, que trabalha pesado, que faz um esforço gigante para comprar um ingresso e vê toda essa barbaridade? É humilhante.
Assim, torço primeiramente, pro Cruzeiro seguir em frente e, lutar até o fim pelo primeiro lugar. Se isso não for possível, torço pro Fluminense ou qualquer time, mas, principalmente, torço contra o corinthians. Porque, jogar sujo assim, é desrespeitoso com o torcedor, seja ele quem for. O campeonato brasileiro mudou de nome, sabiam?
Se chama agora Campeão Brasileiro, porque só tem um time nele, só o corinthians joga, só ele ganha.
Dessa forma, acredito que deveria se criar um campeonato paralelo, para que todos ou demais times possam jogar.
Deixo aqui, a minha completa admiração pelo meu time, time de guerreiros. Porque


Além disso, só a gente é


Assim, tenho Orgulho de Ser Cruzeirense e uma vez Cruzeiro, Cruzeiro até morrer!!!!


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

I want to be strong.


Sou fraca, incoerente e estou inerte. Mas queria ser forte, e ser capaz de desbravar os lugares mais inóspitos. Percorrer caminhos desconhecidos, além de ter forças para sair do escuro. Queria ser forte, pra despeir os meus anseios e encará-los nos olhos, com a coragem suficiente para não me acorvadar. Queria poder olhar os meus monstros e encará-los, superando-me. E, com um sopro, fazer-lhes virar pó, reduzi-los, afastá-los, como um monte de nada ou de tudo, mas um nada que assusta a mim. Queria ser forte, não mais e nem menos, apenas o suficiente.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Onde está o fogo que te queima?


O que te move, o que te guia? O seu combustível tem o poder de te incendiar? Ele te impulsiona à mesma proporção em que te consome por dentro? Quando surge uma faísca, uma pequena fagulha, ocorre a explosão. É um misto de amor e ódio, é o poder versus a subordinação. É essa coisa avassaladora, que te deixa embasbacado e enfurecido ou simplesmente não. É aquele combustível que te domina e te faz permanecer deitado ali, com a cara no chão ou com o olhar perdido e o coração acelerado. É simplesmente isso: uma paixão. E a sua, é aquela que te domina ou a que permanece em suas mãos?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Escuro

Busquei na ausência
A presença que não existia
E cobrei do tempo
A pressa que me adoecia
Tentando enxergar através de um vidro embaçado
Tateando no escuro em busca de um fim
Um final
Um ponto
Ou o que fosse parar aquilo
Que era dor
Que era amor
Ódio, esperança ou ilusão
Nem nomear o que eu sentia eu sabia
Como fugir do vértice do furacão?

Como dizer aquilo sem mentir?
Como me salvar sem fugir?
Qual é exatamente a definição de covardia?
Medo que acomete o sujeito?
Ausência de coragem pra tentar?

Me chame do que quiser
Mas não diga que deixei de lutar
Porque estive ali
Na chuva
De pé
No frio e ao vento
Parada
Esperando você terminar
E agora,
Estou jogada aqui no escuro
Lugar inseguro
Esperando tudo acabar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Devagar.

É no toque suave dos seus dedos
Que me faço perdida
Entre pensamentos e escolhas
Entre o certo e o duvidoso
Com o leve farfalhar das folhas
Liberto-me das amarras
E dos pesares
Vou-me livre pelo desconhecido
E aventuro-me a desbravar meu caminho
Amparada por tuas mãos
Que me socorrem quando tropeço
Mas meu cabelo se enrosca por um motivo
Que desconheço
Quando percebo
Há bolhas em sua mão
Devagar, desvio-me delas
Saltito por entre os lados
Tropeço
Mas sigo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Dois pesos e duas medidas.


Aproveitando o momento crepuscular, parou o carro, pegou a bolsa e saiu. Olhou para os lados, apressou o passo e adentrou ao condomínio de cabeça baixa. Discretamente, destrancou a porta com sua chave e entrou no recinto.

Seu coração batia rápido, sua respiração estava ofegante, mas a sua ansiedade era o que mais a incomodava. Precisava ser rápida. Não sabia o caminho, mas não deveria ser difícil encontrar o quarto principal. Sua experiência não seria esquecida, por mais que tentasse.

Pôs sua bolsa sobre a cadeira e despiu-se. Colocou os acessórios que havia escolhido com tanto cuidado. Adormeceu.

De repente, foi acordada por um barulho de chaves na porta. Rapidamente, se recompôs e se preparou. Antes do que calculara, ele adentrou ao quarto.

Qual não foi a sua surpresa ao encontrá-la daquela forma. O sorriso que se abriu refletia os longos dias nos quais a dor dilacerava o seu peito. Por mais que não se permitisse sofrer, foi inevitável.

Ela, dona de cabelos longos e sedosos, com um andar estonteante, caprichou para chamar a sua atenção. Ele caiu, claro, como um patinho.

Ele se rendeu à paixão. Ela se fez de difícil. Mas naquele momento ele acreditava que seu desejo havia se tornado realidade.

Ela o conduziu de maneira sublime, já que os hábitos antigos não conseguiu apagar. Por mais que se esforçasse, não conseguia ocultá-los completamente.

A noite foi maravilhosa. Ele se tornara um menino bobo e inocente, daqueles que nunca havia tido contato com o mundo adulto. Ao final, estava extasiado. Sentia uma coisa diferente, era uma realização que o tirara do prumo. De tão feliz, estava prestes a se declarar. Respirou fundo, sentou-se à beira da cama.

- Eu queria aproveitar...

- Aproveitar? Espero que você tenha aproveitado meu bem.

Ele ficou sem entender por um momento que não durou muito. Logo a viu levantar-se e vestir-se. Pegou a sua bolsa, jogou a cópia da chave que havia pegado em cima dele e foi saindo. Ele, mais que depressa, levantou-se ainda nú para impedir sua partida. Mas já era tarde.

Ela se permitiu um momento de loucura. Mas não mais. Ao sair do condomínio, despiu-se daquele personagem. Não podia agir daquela forma. Afinal, era uma mulher casada, mãe de família. Apesar das desconfianças das quais vinha sendo alvo, devia manter a pose e a imparcialidade.

Mais tarde, encontrou-se com uma amiga, que logo tratou de contar o babado mais quente:

- Sabe a Fernanda? Aquela que namora o Caio?

- Claro. Eles formam um casal tão lindo!

- Pois é menina, ela traiu ele com outro. Um pobre coitado que não tem onde cair morto.

- Que absurdo! Essas pessoas de hoje já não têm a decência de antigamente.

Mas ela tratou logo de mudar de assunto. Apesar de não perceber, sua batata já estava assando.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Uma dor, um vazio, um amor.


A solidão que toma conta do meu peito não chega aos pés da dor que me assola. Perder você por um segundo sequer é como se apagassem as cores do mundo, mesmo que por um instante. Ouço que não vale a pena sofrer por alguém assim. Mas com você é diferente, pois só você me conecta ao mundo, me mostra a realidade de uma forma que ainda me dá chances de sonhar.
Mas pensando bem, não sei se mereço e aguento passar por isso. Em cada oportunidade é um pedaço do meu coração que morre, é um borrão de corretivo sobre o meu arco-íris. E eu vou me diminuindo, me reduzindo, me despersonalizando até que percebo que não sou mais eu. Não ajo mais por mim, não digo o que quero, não sinto o que desejo e não sou mais quem fui.
Sou um livro cujas páginas foram arrancadas. Sou um dicionário: um conjunto de palavras ordenadas que, mesmo sendo tantas, não conseguem formar um enredo. Sou isso, sou aquilo, não sou nada. Sou um vazio. Isso. Sou um vazio.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Happy Birthday!



...assim, nesse dia, paro pra pensar no que se muda quando se faz 21 anos. E a mudança não é assim tão perceptível, mas as coisas mudam. As relações mudam. As pessoas mudam.

É tão engraçado...Ontem eu tinha 20 anos e não pensava nessas coisas. Talvez os cumprimentos e felicitações tenham evocado esses sentimentos e essas sensações. Esses questionamentos e a quebra de obrigações.

Mas, decidi. Apesar desse discurso "velho", e da pouca/muita experiência, decidi ser fiel aos meus princípios, ser mais leal a mim mesma, ser mais verdadeira o quanto possível. Ser mais afetuosa, mais discreta e quero evitar demonstrar opiniões, afinal, a minha opinião pertence a mim somente. Quero relações duradouras e gostosas. Quero rir do ato mais simples. Quero compreender quando achar necessário e relevar quando não quiser considerar.

Quero mais qualidade que quantidade, quero apreciar a arte e a beleza, quero ouvir coisas boas, quero concretizar meus sonhos e subir até onde aguentar.

Dizer o que quero é só o começo de um longo processo. Mas utilizando de frases prontas, uma extensa caminhada começa a partir do primeiro passo.

Que seja assim, o primeiro passo de uma caminhada, o primeiro beijo de um namoro longo, o primeiro broto de uma árvore....

Apesar que querer tanta coisa, a felicidade me basta!

sábado, 18 de setembro de 2010

O mundo está...


Num momento de cultura inútil, lí uma entrevista do Alexandre Frota à Globo.com. O conteúdo não importa, apenas uma frase me chamou à atenção. Segundo ele, o mundo está "viadinho demais".

As pessoas agora se cercam de todo e qualquer cuidado a fim de evitarem sofrimentos a qualquer custo. Remédios específicos à portadores de transtornos e síndromes, se transformam em moeda de troca de baixo valor. Rivotril é o novo Dramin. Quer dormir durante uma viagem? Com toda certeza, há alguém que vai oferecê-lo a você.

Não se pode sofrer, não se pode chorar. Tem alguma dor? Um vazio no peito? Uma crise existencial? A farmácia é a solução.

Em contrapartida, enquanto uns querem minimizar a dor, outros querem se livrar dela mesmo antes que apareça. Só vêem o que querem enxergar, só fazem quando têm algo a ganhar.

E assim, o mundo vai nessa mudança incessante, nessa vontade louca de adquirir, que seja poder, status, segurança e visibilidade.

Não se pode dizer que a roupa da fulana é feia que você corre riscos de responder a um processo por calúnia e difamação. E dessa forma, as pessoas vão se escondendo e se livrando. Livrando-se de quê exatamente?, eu me pergunto. Mas, de imediato, obtenho a resposta: livrando-se da dor, do medo, da angústia e do sofrimento.

E assim, vão-se as pessoas, se livrando, se esquivando e exigindo uma distância mínima, querendo um lugar de conforto que não as pressione, não as faça pensar nem agir.

O mundo então segue seu curso cheio de  individualistas e repletos de covardes insensíveis. Afinal, há ONG's e organizações pra todo tipo de coisa. Será se não existe uma do tipo: "Associação das pobres mulheres com cabelo indisciplinado"? ou uma "Organização não governamental para mulheres que sofrem por terem olhos azuis mas que queriam olhos verdes"?

É Frota, nessa questão até concordo com você - mas juro que é somente nesta - o mundo está viadinho demais.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tic-Tac.


O tempo corre, voa. Assim como a minha força vai, se esvai. Ouço o tic-tac do relógio e vejo que o tempo não corre a meu favor. Não tenho o tempo que preciso nem o tempo que mereço. Mas mesmo assim vejo que o futuro está distante, e como eu queria que ele fosse o agora. Ao passo que deveria incrementar o meu dia com umas 10 horas, para que coubesse todas as minhas tarefas. Mas não dá. E no cronograma apertado de uma vida atribulada vejo que falta espaço na minha agenda, apesar de dedicar longas horas do meu dia a fazer deus sabe o quê, pois não aparece nada de concreto muito menos nada de abstrato. E nem os meus pensamentos conseguem emergir à minha mente.

Selos.

Bom, recebi esses selos da Karla Hack e nem preciso dizer que fiquei super feliz por tê-los recebido de uma pessoa realmente Nascida em Versos para ser capaz de dizer palavras tão bonitas. E, com muito orgulho, apresento-lhes:










  
As regras destes são semelhantes, assim devo responder:

Qual sua música preferida?
"I'm yours" Jason Mraz

Qual o trecho preferido da música?
I won't hesitate no more, no more
It cannot wait, I'm yours

Uma música que lembra uma pessoa especial.
"Beautiful Day"

Banda preferida?
U2


- Repassar para outros blogs e as regras.
- Indicar o Blog que te deu os selos
- Colocar o link do blog


Recebi dela também estes aqui:






As regras dos mesmos são muito parecidas, assim:

*Do Selo de Qualidade
- Repassar o selinho para 9 blogs;
- Avisar a cada uma das blogueiras;
-TAG : falar 9 coisas sobre mim.

*Do Selo de Ouro
- Colocar o logo no seu blog ou no seu post;
- Passar o prêmio para outros 3 blogs;
- Incluir o link dos indicados no post;
- Informar os indicados sobre o prêmio, deixando comentários em seus blogs;
- E, finalmente, compartilhar o link com as pessoas de quem você recebeu esse prêmio.

*Do Selo Sunshine Award
- Colocar o logo no seu blog ou no seu post;
- Passar o prêmio para outros 6 blogs;
- Incluir o link dos indicados no post;
- Informar os indicados sobre o prêmio, deixando comentários em seus blogs;
- E, finalmente, compartilhar o link com as pessoas de quem você recebeu esse prêmio.

Sendo assim, digo que as coisas sobre mim se encontram aqui..
E os blogs que indico são estes e estes.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dilacerada.


Busco no escuro do meu sótão um sinal de vida, mas só encontro solidão. Vejo as sombras dos monstros que povoam meu imaginário dando voltas a me aterrorizar. Sou atacada por um deles que invade a minha mente e desossa meu corpo. Separa em partes bem pequenas aquilo que restou do que foi de mim, do que era eu.

Ele, coberto de pêlos marrons grossos e imundos, se prepara para sentar-se naquele chão de madeira velha e empoeirada. Ao fazê-lo, sobe aquela nuvem de poeira que se transforma em condimento para meus restos. Mas não antes que o piso emita aquele característico ranger que ecoava por meus ouvidos.

Eu vejo mas não tenho olhos. Escuto mas não tenho ouvidos. Sinto mas vejo meu coração lançado ao chão. Não tenho forma, não tenho cor, nem cheiro e nem odor. Mas estou presente. Me faço existir quando nada sou.

Vejo o meu sangue, tão puro e tão nobre, escorrer por aqueles longos fiapos que cobrem aquele ser. Vejo-o rasgar mais a minha carne com os seus dentes pequenos e afiados, que cerrados, evitam desperdiçar um milímetro de pele sequer. Fui aprisionada para além daquele sótão. Foi dentro da minha mente. Que antes de pertencer somente a mim recebia influências do que quer que fosse.

Me tornei um emaranhado de pedaços, com um dono cruel. Que não se conteve em me ter inteiriça, mas precisou abusar do seu poder e provar para si mesmo o quão cruel é. Se ateve à árdua tarefa de me destruir.

Na ocasião, aproveitou do meu medo e do meu susto, rasgou minhas roupas, riscou meu corpo quase como um mapa, certo de que assim saberia dividir igualmente as partes. Naquele momento, a minha respiração era o único indício de vida remanescente naquele templo que era eu.

Ao passar sua faca dilaceradamente em mim, a força se esvaiu. E juntamente com meu sangue, se escorreu e foi embora.

Eu deveria ter resistido, eu deveria ter lutado. Mas não consegui.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Leveza.

Ando por aí sem olhar as pessoas. Só me concentro nos versos. Só vejo os amores. As flores estão sendo geradas nesse momento pré-primavera. E eu me pergunto o que estou criando aqui dentro do meu peito. Os prédios quase arranham os céus tamanha grandiosidade. Também me pergunto se serei assim grande um dia. No peito sinto um pulsar ritmado, que se acelera subitamente e de repente, se acalma e tudo se ajeita. Não o compreendo. Caminho devagar e vejo um homem sentado no chão, com a mão estendida, à espera que alguém dê dinheiro a ele. Questiono se realmente há um motivo para ele estar ali. Prossigo em meu curso, e sinto-me invadida pelo ar fresco de inverno que sopra e carrega pra longe o que a gente quer depositar para além de nós. Como se abríssemos o baú que carregamos conosco e deixássemos os conteúdos fluírem, fugirem para além dali. Sinto um alívio profundo e tão grandioso que não percebo que meus pés queimam sobre o asfalto escaldante.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Incertezas.

No medo da dor
No insensato do amor
Corro e procuro um abrigo
Estou em busca de proteção
As amarras estão soltas
E os grilhões não prendem mais
E o que faço agora?
Pra onde vou essa hora?
Será se há solução?
Será se tenho compreensão?
Os caminhos se mostram
E as escolhas se escondem
Enquanto a vontade aparece
A coragem some
Consigo levar adiante esse amor?
Ou estaria ele se transformando em dor?
Do que será que sou capaz?
Do resto eu posso até não saber.
Mas de você eu gosto mais.

Selo.

Recebi um selo da Rayane France do blog Pensamentos bobos. Fico muito feliz com o reconhecimento.
=)
Abaixo meus indicados:

http://francorebel.blogspot.com/
http://jovensidosas.blogspot.com/
http://meucaonaochupamanga.blogspot.com/
http://emummundopatetico.blogspot.com/
http://cgw-sonhoperdido.blogspot.com/
http://brogdojuniorsouza.blogspot.com/
http://casadohippie.blogspot.com/
http://desassossegonabolsa.blogspot.com/
http://vagalnerdkawai.blogspot.com/

As regras são:
-Presentar 9 blogs
-Dizer 9 coisas que não sabem sobre mim.

A primeira delas já fiz, logo aí acima.
A segunda, segue abaixo.

1ª Cruzeirense apaixonada!
Perto de completar minha 'independência' (21).
3ª Escrever me distrai.
4ª Ao contrário do que muitos pensam, nem sempre o que escrevo é que eu tô vivendo.
5ª Sou uma ex-chocólatra - não sei como mas foi assim.
6ª Mesmo sabendo as letras, canto errado alguns trechos de músicas
7ª Faço Psicologia
Tenho um amor lindo, verdadeiro e eterno!
9ª Escrevo textos melhores em momentos de raiva/dor/angústia

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

é só questão de opinião.


Não sei se é egoísmo ou muita pretensão. Mas acho que o sol está mais bonito. Acho que o amor habita cada coração. Nesse dia, de tamanha alegria que beira à perfeição, sinto o ar que chega aos alvéolos e a luminosidade que dissipa a escuridão. Parece que o dia está encantado, parece que não há desilusão. Seria assim tão ruim não perceber a dor do outro? Mas de que me importa se ela não altera a minha direção? Seria assim tão errado não agir com a razão? Às vezes não me incomoda a dor nem o horror. Basta eu estar em paz com meu coração.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Blog de Ouro.


Bom, fiquei imensamente feliz quando recebi o selo Blog de Ouro da Cacau do blog Insanidades. Visitem-na, vocês vão gostar!
As regras, ou melhor, a regra diz sobre indicar três ou mais blogs ao selo. Sendo assim, escolhi alguns bastante interessantes, que me fazem pensar quando leio os posts.



  • http://lquoos.blogspot.com/ do Lucas C. Impressionante como esse menino escreve bem. Consegue descrever de forma tão fiel que parece que estamos presenciando cada ato.

É isso, espero que gostem!
=D

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

egocentrismo puro.

Se toca garota, com esse olhar feroz e com tanta presunção. Pare de achar que o mundo gira ao seu redor, porque, querida, ele não gira não. Parece que você nem saiu do berço, tamanho egocentrismo. Onde já se viu, comportar desse seu jeito? Dessa maneira, quem você acha que vai ser um dia? Vai continuar a menina chata que só se preocupa com a chapinha? Aquela que só cola na prova e quer fazer papel de santa? Ou, seu preferido, que é ficar num pedestal onde ninguém pode te incomodar? Cresçaaaaa! E escolha uma maneira melhor pra aparecer. Porque ficar desse jeito, esnobando e achando que pode? É o fim. Fim da linha, fim de papo. Ou você acha que ainda vai conseguir alguma coisa assim? Dar em cima do professor não garante nota na prova..! Acho que disso você já se deu conta. E então?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

apenas pequenas palavras.

As palavras vem e vão, inquietas e com exatidão. Ou às vezes não. São relapsas e vagas, displicentes e mal-criadas. Sabe aquela vontade louca de gritar um palavrão? Ou então quando vem uma vontade imensa de dizer algo que parece inexprimível? Aquela feliz sensação que preenche o seu peito e transparece no seu sorriso – já que a sua boca se recusa a se fechar – e faz os seus olhos brilharem? Pois é. Elas são assim. Aparecem quando você não tem um rascunho pra anotar, somem quando você pára para escrever, aparecem quando você se permite sofrer e são facilmente proferidas quando você está a sonhar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Game over.

Um ato
Um fato inesperado
Uma dor
Um destino
Um desatino
Um buraco
Pouco tempo
Muito espaço
Muita gente
Lágrimas
Um caminho
Um fim

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sofrimento.


Rasgo-me por inteira. Despedaçada. Chego ao ápice do meu sofrimento. Estou desolada. Recuso-me a obter ajuda, quero que a dor penetre cada milímetro do meu ser. Quero me sentir perfurada, que seja por uma lança ou que seja consumida pelo fogo. Mas quero sentir-me viva. Quero sentir a dor, só assim serei mais forte.

O sofrimento trás a dor ou esta causa o sofrimento? Que diferença faz quando me torno tão criativa nesse momento?! Não ousem pensar que olhos cheios de lágrimas distorcem a visão, pelo contrário. Elas limpam os seus olhos para que você enxergue melhor. Melhor e mais fundo. Olhe para as suas mãos. Sinta um calor que começa da ponta das unhas, percorrendo os seus braços, subindo pelos seus ombros e chegando ao seu pescoço. Foi um calor realmente ou um arrepio? Não importa. Você apenas se distanciou do mundo para enxergar a si próprio. É isso que o sofrimento faz.

Deitada em uma cama num quarto escuro recolho os meus pedaços, junto todos e despejo sobre eles um punhado das minhas lágrimas. Aquelas que ferviam enquanto desciam rosto abaixo. Jogo-as sobre meus cacos, elas me conectam novamente. Reergo-me. Agora eu sou mais forte. Porque quando não sofro, esqueço. Mas quando sofro, mereço o melhor que estar por vir.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Você sabe o que significa amar?


Foi assim de mansinho, você chegou devagar. Sabia que tinha um espaço em meu peito. Mas sabia também que devia lutar. Eu realmente era assim, difícil, pode-se dizer. E sou até hoje, não é? Mas naquela época era tudo diferente. Não haviam preocupações maiores que as notas da escola e os motivos de raiva extrema só diziam respeito às proibições dos pais. Me sentia leve com uma pluma, em contraposição ao peso da minha conta telefônica. Todos os minutos do meu dia eram poucos para dedicar a você.

O tempo passou e a idade cresceu. Pouco importavam as notas, elas já eram consequências nesse tempo de faculdade. Dias e madrugas dedicadas a projetos e estágios, um abismo de tempo entre a gente. Novos questionamentos, novas situações. Mas o amor que batia dentro do peito persistiu. Não só isso, como também aumentou.

Novos rumos na vida, novas dificuldades. Mas ainda parece que tenho 16 anos. Quando estou entre os seus braços sinto-me protegida por uma fortaleza. Sinto ainda borboletas voando em meu estômago. Parece que o mundo é mais colorido com você.

Por mais que eu não tenha vivido uma paixão arrebatadora que me pusesse chorando madrugadas inteiras por você não olhar pra mim, sei o mal que a sua falta faz. Sei dar valor mesmo sem ter sabido como seria perdê-lo por um segundo sequer.

Hoje pensei em desistir de você. Não em tirá-lo da minha vida, mas desistir de fazer o que vinha pretendendo. Não consegui. E não o fiz porque eu percebi que o amor vai além do querer, além do buscar, além de um simples prazer e vai muito mais além do que dizer sobre amar.

É, acho que final e verdadeiramente descobri o significado do verbo “amar”. Mas não me importo se ainda não houver conseguido, porque eu quero, daqui pra a frente, me certificar ou redescobrir isso ao seu lado.


Amo você!

A natureza pede socorro.


Sinto-me livre como um rio e frágil como uma borboleta. Como se estivesse a flutuar em doces águas, salpicada de gotas macias da mistura do líquido molhado que corre com as gotas do orvalho. Estou no paraíso! Desequilibro-me, meus pés tocam o fundo coberto de areia, sinto as ondas propagarem-se por entre as minhas pernas, são os peixes a passarem por mim enquanto nadam.

Flutuo novamente! Sinto o calor dos raios do sol a aquecerem a minha pele, tão macia e e tão translúcida. Mas não me importo. Eles me fazem perceber que estou viva, eles temperam o dia. Alegram, iluminam. É bom que seja assim.

Deixo a água levar meu corpo, é um toque suave. Sinto como se mãos macias me empurrassem correnteza abaixo. É gostoso. O barulho chega aos meus ouvidos e soam como a mais perfeita das sinfonias. É mágico!

Sou acordada do meu transe, como assim?, penso eu. Algo estava preso em meu tornozelo. Fui ver o que era. Deparei-me com sacolas plásticas e seus conteúdos lastimáveis. Olhei ao redor e não reconheci o rio. O fundo não era o mesmo, a areia havia dado lugar à lama, o sol derretia a minha pele e não se podia ver quinze centímetros além da superfície. plaft. Um papel veio voando e bateu na minha testa. Era uma propaganda de uma fábrica qualquer cujo nome estava borrado. Mas o slogan não. Estava lá em perfeito estado e dizia “a solução para o seu progresso”.

Progresso. Progresso é desmatar? É poluir? É sujar? É destruir? Até onde vai a ganância? Até onde as pessoas irão com as mentes obscurecidas pelo poder? Com passos lentos, saí da água, levei o lixo para fora e percebi que aquele papel fora impedido de voar porque a minha cabeça não permitiu. Seria assim que as coisas iriam mudar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Kate (5).

Se a situação não fosse tão desesperadora, Kate teria rido da cara de susto de Adrian. Apesar de 2 anos de relacionamento, ela nunca o vira daquele jeito.
- Kate, o que você está fazendo aqui? Não disse que ia ficar em casa fazendo uma pesquisa? Isso não é hora de estar na rua, Dona Kate! E ainda por cima, sai sem a minha permissão.
- Você bebeu tanto assim Adrian? Não sabia que você tinha adquirido os meus direitos. Tipo direitos autorais, é? Ou algum de outro tipo? Sabe que eu não sabia ainda da vigência desse contrato? Ah, faz-me rir, baby. Desde quando tenho que te dar satisfações?
- Kate, não me deixe com raiva. Você é minha namorada...
- Era.
- E eu não admito isso. Como pode mulher minha...
- Ex.
- Sair por ai assim? E o que você murmurou ai?
- Ah, qual é Adrian, se liga. Eu não sou sua mulher mais nem aqui e nem na China. Até porque, para a minha sorte, não me casei com você. E mesmo se o tivesse feito, você não teria o poder de mandar em mim. Nunca.
Kate ia saindo quando virou-se para ele novamente. Ela não podia perder aquela oportunidade.
- Quer saber Adrian? Ainda bem que eu presenciei essa cena lamentável! Sabe por que? Porque eu não quero nunca mais que você chegue perto de mim. Tenho nojo de você! Tenho horror só de lembrar o quão tosco você é. Só chegava na minha casa com a intenção de me embebedar para se aproveitar de mim. Só assim para eu esboçar um sorriso, ao menos. Porque em sã consciência, você não conseguia obter um gemido de prazer sequer. E sabe o que é pior? Você se acha tão auto-suficiente, tão poderoso, que nem percebia que era fingimento.
- Kate, o que é isso? Pare de gritar, todo mundo está ouvindo.
- Dane-se todo mundo, Adrian. E dane-se você também. É melhor que todos saibam, inclusive essa ruiva aí, que você estava devorando quando eu cheguei. Aliás, como você se chama, querida?
- Ahn, Lindsey.
- Lohan também? Ha ha ha. Cuidado para não ser presa, hein? Na companhia deste aí, é perigoso ele te embebedar e quando você se der conta, vai estar na cadeia. Assim como sua xará.
- Kate, fique calma, olha só o que você está fazendo. Vamos conversar.
- Ah, qual é Adrian? Você acha que eu sou boba? Quer dizer, mais do que eu já fui por esses dois anos? Relaxa, sua imagem nem foi assim, tããão denegrida. O som está tão alto que apenas essas 20 pessoas à nossa volta escutaram o que eu disse. Por quê? Está com vergonha agora? Vá se catar!





-Senhora, chegamos! Senhora? Não vai descer? Está me ouvindo, está passando mal? Senhora!
Envolta em seus pensamentos, Kate não percebera que o táxi havia chegado ao destino. Observava as pessoas que andavam calmamente pela calçadas. Elas não deviam ter problemas. Como podiam passear daquele jeito? Kate pagou pela corrida, ajeitou os óculos escuros e saiu apressada em direção ao prédio. Se dependesse dela não seria educada, nem gentil e nem o escambau. E se alguém a desejasse bom dia, ela iria realmente perguntar o que tinha de bom. Mas não, não podia se comportar como uma menininha. Tinha que manter a compostura. O que não significava que deveria ser extremamente amável. Iria se restringir ao simples cumprimento. Pronto, era isso que faria.
- Bom dia Smith.
- Bom dia – ele fez uma pausa – Sra. Kate.
Ela sabia que quando Smith respirava fundo antes de prosseguir, era que alguma coisa ainda estava por vir. Ela, porém, não queria se dar ao trabalho de perguntar e já ia em direção ao elevador quando ouviu ele completar a frase.
- Sinto muito pelo o que aconteceu.
Ai não – pensou ela – será que todos os funcionários da agência sabiam da traição?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Medo da noite.


Tenho medo da noite!
Do escuro do céu
E da sombra da lua
Onde tudo escurece
Onde a lua fulgura
Quando o sol se esconde
A luz escurece
A sombra aparece
E então tudo some!

Tenho medo da noite!
Onde ouço barulhos
De um simples sussurro
A um grito lascivo
Desde uma folha caindo
Até o tritilar dos grilos

Tenho medo da noite!
E enquanto os gatunos estão à solta
Os gatos andam nos muros
Causando sempre infortúnios
Sem ao menos esperar

Tenho medo da noite!
Ouço gritos, vozes
Passos, pegadas
É muito obscuro
É muito sem graça
O tempo não passa
E eu fico aqui
Olhando o relógio
Contando os segundos
À espera da noite
Que não tem um fim

Desisto e me esqueço
Com a sombra, adormeço
Me viro e me aqueço
Nessa noite ruim

Acordo assustada
Fico atordoada
Mas quando olho a janela
Da noite escura
Fiquei livre, enfim

Não tem mais fantasmas
Nem gatos na escada
Nem gatunos terríveis
Ou coisas ruins

O dia está claro
O sol escaldante
E num rompante
Percebo por fim
Que gosto do dia
Com ar de alegria
Admiro a beleza do sol
E da natureza
Sinto o ar
Vejo com clareza
E espero que o dia
Não termine
Assim
Como quem tem pressa
Como quem tem fome
Quero que o dia perdure
Ou que não tenha fim

Porque a noite é longa
O frio é duro
O pior é o escuro
É sempre ruim!
Tenho medo da noite!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Kate (4).

Dentro do táxi, à caminho do trabalho, Kate teve um vislumbre da noite anterior.


***

Eram quase dez da noite e ela ainda não estava pronta. O seu guarda-roupas já estava inteiro no chão. Não tinha uma peça que a fizesse se sentir satisfeita. A indecisão feminina, como sempre. Exausta, escolheu aquele vestido preto, sabe? Aquele que toda mulher tem um? Que não tem aquele mega decote e nem é tão curto para mostrar as belas pernas torneadas, mas aquele que se pode vestir, colocar uns acessórios e se sentir à salvo do olhar feroz das outras mulheres. Ela havia ligado quinze vezes para Adrian, seu namorado. Já repetia mentalmente a tão querida frase na voz sexy da gravação: “Este celular encontra-se desligado ou fora da área de cobertura.” De certo, Adrian devia estar terminando um projeto do trabalho, ele havia dito isso a ela dias atrás. Mas Kate queria comunicar-lhe que estava saindo com Helen. Impossibilitada, desistiu. Ele que ligasse pra ela quando tivesse um tempinho.

Quinta-feira era o dia vip da Pluss, a boate mais famosa da cidade. Sempre com cantores, modelos e artistas de Hollywood. Kate nunca ia quinta, era o melhor dia porém, o mais caro. Ela não se dava a esse luxo sempre, mas aquela era uma ocasião especial. Helen ia apresentar seu novo namorado à Kate. Ele era um advogado bem sucedido e vivia rodeado por menininhas babando por ele. Mas, para a tristeza delas, ele escolhera Helen para namorar. Talvez tenha sido por isso que Kate e Helen recebiam olhares furtivos de várias garotas e não entendiam nada. Até ouvirem uma conversa no banheiro...

A música eletrônica rolava solta e Kate estava admirada de quão sofisticada estava a festa. Quantos homens lindo à sua volta. Ela olhava atentamente cada um deles e, na falta de uma coisa melhor pra fazer, classificava-os de acordo com seu gosto e suas características. Até aquele momento, os morenos de olhos verdes estavam ganhando. Era uma delícia se divertir observando os outros até quando seus olhos pairaram sobre um casal. Ele usava uma blusa de listras azuis igual aquela que ela dera à Adrian no dia do seu aniversário, além de ter um jeito bem familiar. O clima tava tão quente que Kate se enxergou no lugar daquela mulher. Ela apertava os olhos acreditando que assim eles adquirissem a capacidade de aproximar aquela cena numa espécie de binóculos. Como não conseguiu, foi andando devagar, se aproximando lentamente e, de repente, estava tão perto que conseguiu sentir aquele perfume que ela conhecia tão bem. Olhou para os dois, que haviam se desligado do mundo naquele amasso tão intenso, contou até 10 e sua vontade era de pular no pescoço de Adrian. Resistiu. Num impulso, tocou o ombro dele, que se desvencilhou devagar sem nem se dar conta do que havia feito. Ela o fez novamente, porém mais forte. Ele apenas deu um passo para frente. Kate, porém não se conteve.

- Curtindo a festa, Adrian?

Realidade.


Ele estava sentindo o gosto do sangue em sua boca. E tinha a sensação que chão havia sido sugado de debaixo dos seus pés. Pela primeira vez se sentira desamparado mesmo tendo passado 30 difíceis anos de vida.



Saía de casa para se exercitar. Surpresa. Antes que pudesse fechar o portão, sentiu algo frio em uma de suas têmporas. Imóvel, não conseguiu reagir. Ouviu logo que deveria obedecer, tirar tudo dos bolsos se não quisesse tomar tiro. Assim o fez. À essa altura, o suor brotava por todo o seu corpo e permitia que o revólver deslizasse livremente sobre a sua pele. Devagar, foi tirando o que podia, celular, óculos, carteira, aliança. O bandido proferiu-lhe um soco na boca, o empurrou para dentro e fechou o portão. Ele não resistiu à força imposta e caiu.



Aquilo era o preço que pagava por ser um cidadão correto, que pagava os seus impostos. Ah, mas claro, faltava o prêmio por ser assim tão exemplar. Tinham outros que não o eram. E era isso que ganhava, a impunidade, a beleza de perder, dentro da sua própria casa, o que havia conquistado com o próprio suor.

No ritmo do descompasso da dança da vida!

Cai a cortina
Cai a máscara
Os fatos são despidos
E tudo que estava escondido
De repente aparece
Ele não era o que mostrava
Ela não era o que aparentava
E tudo parece ter sido em vão
Quantos choros e risos
Quantas palavras e gritos
Tudo pra dizer que não era o que parecia ser
Cai a cortina
Cai a máscara
Aparece a verdade
Some a ilusão e a mentira
Acabou a escuridão

         * * *

A mentira que impera
Se acaba no portão
Ouço em noites de primavera
Que luar mais bonito é no sertão
Vejo em gota de orvalho
O reflexo do peão
E ouço em som de cachoeira
Que o mar não tem sal não
A saudade que domina,
Bate forte e devagar
Mas escuto cada rima
Sempre forte a soar
Me lembrei da bailarina
Sempre gosta de rodar
Mas também tem a menina
Que não pára de brincar
E assim vou seguindo
Meu caminho devagar
A espera do destino
À espreita a me atacar
Mas eu sou como um menino
Sempre livre a sonhar
Por isso eu vou seguindo
E já não penso em parar.

domingo, 18 de julho de 2010

Invisível.


Ela veio andando, observando os arranha-céus. Tudo tão bonito, tudo tão perfeito. Num dos pontos mais nobres da cidade a sua presença era quase imperceptível. Tão nova e tão adulta. Sabia o quanto custava cada lixeira daquele lugar. Viu uma vitrine que reluzia, enfeites glamourosos e chamativos. Foi até ela, parou e começou a olhar. Sentiu o olhar penetrante das madames que estavam lá. Não se intimidou, só conseguia pensar em quantos animais haviam sido mortos para constituir cada casaco daquele. O preço de cada um? Ah, era um valor com o qual não acreditava obter nem trabalhando a vida inteira. Não era esse o seu destino, emprega doméstica? Era isso que todas as meninas do morro esperavam, não tinham outra opção. Absorta em seus pensamentos, esqueceu-se de ouvir o mundo lá fora. Percebeu um assobio, algo que não sabia discernir do que era. Olhou para o lado e conseguiu perceber que a vendedora a expulsava de lá, com toda a sua impáfia, arrogância e prepotência. Sentiu o amargo da humilhação em sua boca. Sentiu no ar o cheiro do desprezo com o qual era tratada. Mas ela sabia, ah como sabia...Que o valor que se tem não está no que se veste e sim no que se é. Com os olhos marejados, lutava para não chorar. Dignidade não se compra e pela dela ninguém ia pagar. Caminhava pela calçada com os olhos baixos, rumo ao chão, e percebia refletido naquele cimento limpo uma realidade fria, distante e cruel.

sábado, 17 de julho de 2010

Fantasia, onde estás?

Em que ponto da vida algo se perdeu? Onde estão os príncipes? Onde estão os reis? Na minha doce infância eu sabia! Sabia que seria resgatada do alto da torre por um belo príncipe em seu cavalo branco. Os anos se passaram e estou aqui. Onde foram parar os princípes? Onde está a fantasia? Meu mundo imaginário era povoado por fadas, duendes, bruxas e dragões. E eu vivia à espera do meu final feliz. Mas quando olho pro lado, o que vejo?! Nem resquícios do que acreditei um dia. Não há príncipes, nem dragões, nem fadas-madrinhas. Fui enganada. Do doce encanto à amarga ilusão. Onde foram parar as coisas em que eu acreditava? Dizem que elas existiam apenas em meu coração. Mas por que? Agora?!, o mundo acabou, a guerra explodiu, o mal imperou e ninguém resistiu. Não há uma viva alma que diga que o mundo é feliz. Ei palhaço, cadê seu nariz?? Não há, não tem, e acho que nunca existiu.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Kate (3).


Kate saiu do ar por um breve momento, seu olhar se tornou vago. Ela tentava se lembrar do que realmente havia acontecido, mas estava exaurida, suas forças haviam se esvaído. Cansada de tentar, desistiu.
- Não precisa ficar envergonhada. Meu nome é Jake e eu te trouxe pra casa porque não sabia seu endereço para levá-la de volta. Quando entramos no táxi você apagou, não me deu um segundo nem para perguntar onde morava. Sem opções, te trouxe para cá. Não tem nenhum problema, tem?
- Oh Jake, me desculpe. Eu não queria ter dado esse trabalho todo. O pior é que eu não me lembro de nada. Só alguns flashes surgem na minha cabeça de tempos em tempos.
- Eu entendo.
- Mas você não é nenhum bandido, é?
- Não Kate.
- Assassino de aluguel?
- Não.
- Gente da máfia?
- Não Kate.
- Tráfico de órgãos?
- Não, nada disso.
- Então...
Ele riu e deixou que uma mecha do seu cabelo lhe caísse sobre a testa. Com um simples movimento a jogou para trás. O que deixou Kate fascinada.
- Eu sei que você não se lembra, mas te disse isso ontem. De qualquer forma, não custa nada repetir, não é?
Kate riu envergonhada.
- Eu sou presidente de uma indústria automobilística. Meu pai fundou a empresa e, como eu sempre gostei de carros, entendia de tudo com facilidade. Com o passar do tempo, meu pai percebeu que eu tinha aptidão pra coisa. Me formei em administração e em engenharia e fui assumir os negócios da família.
- Nossa, você assim, tão novo, nem parece...
Dessa vez, foi Jake quem riu. Kate tinha uma maneira sutil e eficaz de arrancar-lhe sorrisos. Ele estava encantado.
- É, novo nem tanto. Mas meus 33 anos foram bem vividos.
Ela ficou surpresa, eram muitas informações para serem absorvidas em um espaço de tempo tão curto.
- Bom Jake, a conversa tá ótima e apesar da ressaca, estou bem. Já são quase oito horas e eu preciso trabalhar, mas você se importa de me dizer o que aconteceu?
Jake parou por um momento e pela primeira vez não sabia o que fazer. Deveria realmente contar o que havia ocorrido?
- Kate, me desculpe, você pode não gostar muito do que eu vou dizer, mas...
- Fala logo, assim eu fico mais preocupada. Eu fiz algo grave assim?
- Não, na verdade você se esbarrou em mim sem querer, tropeçou no meu sapato e ia caindo quando eu te segurei.
Com um deus grego daquele – pensou Kate – era bem capaz dela ter feito de propósito.
- Eu vi que você estava um pouco transtornada – continuou ele – e a levei pra sentar.
- Ahn, muito obrigada. Eu devia estar ruim mesmo, nem me lembro da última vez em que bebi tanto. De repente Kate ficou paralisada – Mas se ontem não era dia de nenhuma comemoração especial, porque eu só bebo em datas assim, porque então eu bebi tanto que não me lembro de nada? Alguma coisa aconteceu ou...
- É, você viu se namorado beijando uma outra mulher.
Kate havia esquecido completamente.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Kate (2).

Kate ficou atônita, não sabia o que fazer. O homem que estava à sua frente era de uma beleza inimaginável. Sua pele clara contrastava com o castanho de seus cabelos. Tinha sobrancelhas espessas que contornavam aquele belo par de olhos azuis e emolduravam o seu rosto. Sua boca tinha um contorno forte e definido, além de uma cor rosa avermelhada que lhe garantia um ar saudável. Era uma imagem perfeita.
- Kate? Bom dia, trouxe o seu café. Não sabia sobre o seu gosto mas lembro de ouvir você dizer que gosta de tomar suco de morango ao acordar. Trouxe o suco com alguns biscoitos.
Kate permanecia perplexa, aquele lindo estranho sabia até do que gostava no café. Isso não era um bom sinal.
- Err...Desculpe-me, errr....É que eu, meio, assim...
- Não há porque se preocupar, tome o seu café ou vai se atrasar para o trabalho! Kate estava estarrecida, esquecera completamente que aquela era uma manhã de sexta-feira.


Kate teve uma infância feliz e tranquila no interior da Itália. A cidade de Florença era bem frequentada e recebia turistas durante todo o ano. Mulheres elegantes, que vinham de Milão, passeavam pela cidade e a inspiravam. Eram modelos e atrizes famosas, mulheres ricas e bem vestidas que serviam de exemplo. Ela, menina estudiosa e dedicada, sonhava em ser como elas – uma mulher de sucesso. Decidiu então ser modelo, tirava boas notas na escola, via filmes, lia revistas, tudo para mostrar aos pais que era capaz de seguir sozinha no mundo fashion. Mas seu pai, Steven, não permitia que uma integrante da família Spencer se tornasse uma ovelha desgarrada. Pelo menos era isso o que ele pensava.
- Chega Kate, não quero uma filha minha drogada!
- Mas pai, não tem nada a ver. Pra ser modelo não precisa usar droga.
- Ah ha ha ha. Pensa que eu não sei?! Eu vejo aquela Kate Moss cheirando cocaína até em capa de revista.
Escondido das filhas, Steven adorava ler revistas do universo feminino. Sabia todas as fofocas das celebridades, cada casamento, cada separação e além, claro, de todos os capítulos das novelas. Mas isso era uma coisa que não devia ser dita, o que sua mulher iria pensar?
- Mas não são todas, você não pode generalizar.
- Tá bom!
- Sério pai, você vai deixar?
- Deixar o quê? Pensa que só porque eu concordei com o que você disse significa que permitirei esse absurdo?? Claro que não! Pode até não ter isso de droga, mas toda modelo é anorexa.
- Anoréxica, pai!
- Aí, não disse?!
- Não pai, só estava te corrigindo. Nem toda modelo é anoréxica.
Essas conversas se repetiam de tempos em tempos, Kate tentava convencê-lo, mas era em vão. O tempo se passou e Kate parou de crescer, seus 167 centímetros não permitiram-na ser uma modelo famosa. Se tivesse ao menos uns 8 centímetros a mais...
Kate desistiu da vida de modelo mas não abandonou essa carreira por completo, estudou moda, queria ser estilista. Mas uma estilista dessas famosas, de renome internacional. Queria ser uma Coco Chanel, mas não tinha fama nem dinheiro para investir.
Um dia, enquanto fazia um trabalho da faculdade, viu que uma empresa americana estava contratando estilistas e resolveu se inscrever. Não seria chamada mesmo – pensava ela – e preencheu o formulário enquanto escutava música e jogava umas partidas de paciência. Semanas depois recebeu a confirmação do emprego e, apesar de surpresa, lá foi ela rumo à cidade que a fascinava.



- Desculpa mas, eu...eu esqueci seu nome!
- Tudo bem Kate, não esperava que você se lembrasse mesmo. Ainda mais depois do que aconteceu!
Ai meu deus – pensou ela – o que havia acontecido?

Como uma teia!


Estou presa numa teia que eu mesma criei. Os erros do passado repercutem no agora. Por que há tanta resistência diante do novo? E a liberdade, por onde anda?
Quando quis ser de um jeito, fui. Fui tanto que moldei as pessoas ao meu redor. Agora já não quero ser assim. Foi um erro? Que tenha sido ou que não. Foi uma etapa que me permitiu ser quem sou hoje. As respostas são escassas mas as tentativas não são em vão. Que tudo se resolva e que acabe bem. Não quero que o que eu mais prezo se distancie e se vá. Porque por esse motivo meu coração ontem bateu forte, mas quero que amanhã bata também.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Kate (1).


Ela acordou em um sobressalto, o coração disparado. Há quanto tempo não acordava assim? Tentou enxergar mas a penumbra não permitia. Sua visão estava embaçada, deveria ter tirado as lentes antes de se deitar. Deitar, dormir? De repente, ela percebeu que aquela não era a sua cama. O lençol era macio, mas nada que se comparasse aos seus jogos de lençóis de algodão egípcio, de 600 fios. Não era todo mundo que tinha o seu bom gosto. Virou-se de um lado para o outro e tentou se aproveitar da fresta de luz que entrava pelo canto da porta. Foi em vão. Apurou os ouvidos, percebeu uma música ao fundo e barulhos de utensílios de metal. Onde estava, afinal?
Percebeu que seu casaco estava sobre a poltrona e, para seu alívio, permanecia com a roupa que usara no dia anterior.
- Pelo menos isso! – pensou ela. Olhou para o chão e viu suas botas. Como não havia ninguém no quarto, resolveu levantar-se para terminar de se vestir. Ao levantar da cama viu o seu mundo girar. Há quanto tempo não ficava de ressaca? Desde os seus 18 anos.



Era a festa de aniversário da sua melhor amiga. Kate resolveu então, preparar-lhe uma festa surpresa. Não era todo dia que se fazia 18 anos. Kate então, pediu à sua mãe que a deixasse comemorar o aniversário de Jéssica em sua casa. A mãe, Natalie, não se opôs, as duas eram tão próximas quanto duas irmãs seriam.
A decoração incluía flores, velas, balões, neons, uma verdadeira mistura de cores e estilos. Kate, aproveitou-se da oportunidade e chamou alguns modelos, que se fantasiaram, ou melhor, se despiram e ficavam desfilando de sunga por todos os lados. Jéssica chegou acreditando que aquela era a festa de despedida de solteira da irmã de Kate, Hanna. Quando percebeu do que se tratava, abriu um sorriso do tamanho do mundo e não cabia em si de tanta felicidade. Afinal, sua mãe dissera que aquele ano estava difícil, que até o seu presente seria simples e festa era algo com a qual nem deveria pensar. Foi o melhor aniversário de todos!
Ela e Kate aproveitaram até o último segundo, ou melhor, até a última garrafa de vodka. Quando Kate deu por si, já estava dançando em cima do balcão com um dos modelos. Jéssica resolveu acompanhá-la e se juntou à dupla na companhia de outro modelo. Elas nunca se divertiram tanto!
No outro dia, quando acordaram, parecia que tudo estava solto dentro da cabeça delas, até o barulho da chaleira no fogão incomodava. De uma coisa Kate estava certa, beber daquele jeito, nunca mais! Mas que tinha sido divertido, isso tinha!




Kate andou devagar até a poltrona e vestiu o casaco para se proteger do frio, já que estava em pleno inverno nova-iorquino. Sentou-se novamente para calçar suas botas e, quando terminava de subir o último zíper ouviu a porta se abrir.
- Bom dia Kate, trouxe o seu café!
Kate sentiu um arrepio frio correr dos seus pés até a ponta de seus longos e louros fios de cabelo. Quem era aquele estranho que a chamara pelo nome?